🎸 Raul Seixas: O Maluco Beleza Foi Um Dos Mais Icônicos Artista da Música Brasileira

🌅 O Nascimento de uma Lenda (1945–1963)

Raul Santos Seixas nasceu em 28 de junho de 1945, em Salvador, na Bahia. Filho de Raul Varela Seixas e Maria Eugênia, cresceu em um ambiente culturalmente rico, mas profundamente conservador. Ainda criança, Raul demonstrou interesse pela literatura e pela música, especialmente influenciado por livros de ocultismo, filosofia e pelas canções de Elvis Presley, Little Richard e Jerry Lee Lewis.

Sua paixão pelo rock começou aos nove anos, quando ouviu pela primeira vez um disco de Elvis. A partir dali, passou a devorar álbuns importados que chegavam em Salvador pelas mãos de marinheiros ou de amigos de classe média com acesso ao exterior.

Foi essa obsessão que moldou sua personalidade rebelde, questionadora e absolutamente fora dos padrões da época. Raul não queria ser apenas um cantor. Queria ser um mito.

🎸 Os Panteras e o Primeiro Passo (1964–1968)

Raulzito e Os Panteras - Álbum de 1967

No início dos anos 60, Raul fundou a banda Raulzito e Os Panteras, uma das primeiras tentativas do rock brasileiro de se estabelecer com identidade própria.

Em 1968, o grupo gravou o disco Raulzito e Os Panteras, lançado pela Odeon. O álbum trazia versões em português de clássicos do rock americano, como “Lucy in the Sky with Diamonds” dos Beatles, além de faixas autorais que mesclavam rock, iê-iê-iê e baião. Apesar de ser um fracasso comercial, o disco abriu as portas para Raul no cenário musical nacional.

Foi nessa época que Raul começou a desenvolver o que viria a ser sua marca registrada: a fusão entre a música popular brasileira, o rock e elementos da cultura esotérica e filosófica. Abaixo trechos de duas músicas de Raulzito e os Panteras.

🎙️ O Produtor Visionário da CBS (1969–1972)

Raul Seixas: O produtor
Raul Seixas, em pé, ao centro, produzindo discos na CBS

Após o insucesso do primeiro álbum, Raul se mudou para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar como produtor da gravadora CBS (atualmente Sony Music).  Jerry Adriani, nome badalado da Jovem Guarda, contava que sua relação com Raul era tão boa que ele pediu ao diretor da CBS, Evandro Ribeiro, para que o Maluco Beleza produzisse seus trabalhos. Lá, teve contato direto com grandes nomes da MPB e foi responsável por lançar e orientar carreiras de artistas como Diana.  Na lista de nomes produzidos por Raulzito, ainda temos Tony & FrankyeOsvaldo NunesBalthazarSérgio SampaioMiriam Batucada e Edy Star. Claro, não podemos deixar de fora o próprio Jerry, que estourou com a canção “Doce, Doce Amor”, que tem a autoria de Raulzito, em parceria com Mauro Motta (1949 – 2025).

Mas Raul queria mais. Usava o tempo livre para compor canções provocativas, com letras ácidas e filosóficas, que não se encaixavam no perfil romântico da gravadora.

Foi durante esse período que conheceu Paulo Coelho, que viria a ser seu parceiro em algumas das músicas mais icônicas da MPB.

"Eu tive uma escola muito importante que foi a CBS [...]. Foi uma vivência fantástica para mim. Aprendi muito a comunicar."
Raul Seixas
Cantor / Compositor / Produtor
Paulo Coelho e Raul Seixas: Parceria Que Rendeu Boas Mùsicas

🚀 Metamorfose Ambulante: O Sucesso com “Krig-Há, Bandolo!” (1973)

O disco Krig-Há, Bandolo! - Um marco na carreira de Seixas

Em 1973, Raul enfim deu o grande salto de sua carreira. Lançou o disco Krig-Há, Bandolo!, um marco absoluto na história do rock brasileiro. O álbum trazia faixas antológicas como:

  • “Mosca na Sopa”

  • “Metamorfose Ambulante”

  • “Al Capone”

O disco apresentou ao Brasil um artista novo, ousado, que misturava filosofia existencial com crítica social e referências pop, tudo isso embalado em um som de guitarra crua, bateria pulsante e sotaque nordestino.

A capa do disco, inspirada em HQs e desenhos animados, trazia Raul com uma arma na mão, como um anti-herói pronto para desafiar o sistema.

🧠 Curiosidades sobre disco Krig-Há, Bandolo!:

  • O Álbum que Oficializou Raul Seixas como Solista

    Embora muitos considerem Krig-Há, Bandolo! (1973) o disco de estreia de Raul Seixas, a verdade é um pouco mais curiosa. Antes dele, Raul gravou um LP intitulado Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock, um álbum de covers lançado após sua elogiada apresentação no 7º Festival Internacional da Canção (FIC). Porém, o disco saiu sem seu nome na capa nem nos créditos — Raul foi apenas o “ghost singer” da obra. Só em 1975, numa reedição, recebeu o devido reconhecimento.

    Para todos os efeitos, Krig-Há, Bandolo! foi de fato seu cartão de visitas oficial como artista solo, marcando o início da fase mais criativa e explosiva de sua carreira. Antes disso, Raul havia integrado bandas em Salvador como Os Relâmpagos do Rock, que se tornariam The Panthers e, depois, Raulzito e Os Panteras, já destacando sua liderança.

⚡ Sociedade Alternativa e a Era Dourada (1974–1976)

Raul atingiu o ápice de sua carreira em meados dos anos 70. Em parceria com Paulo Coelho, lançou músicas como:

  • “Sociedade Alternativa”

  • “Ouro de Tolo”

  • “Tente Outra Vez”

  • “Gita”

O disco Gita (1974) foi um divisor de águas. Com mais de 600 mil cópias vendidas, foi considerado disco de ouro. A faixa-título, inspirada no Bhagavad Gita, mesclava esoterismo oriental com crítica à ditadura e autoafirmação pessoal.

A dupla também fundou a famosa Sociedade Alternativa, inspirada nos preceitos do ocultista inglês Aleister Crowley. Essa fase mística, mítica e profundamente libertária incomodou o regime militar.

Em 1974, Raul e Paulo foram presos e torturados pelo DOPS, sob acusação de incitação à anarquia. Após a prisão, foram exilados por um curto período nos Estados Unidos.

📀 Curiosidade Vinil: Raul era fanático por Elvis Presley

Desde criança, Raul Seixas era completamente obcecado por Elvis. Aos nove anos, aprendeu inglês sozinho só para entender as letras do Rei do Rock. Seu quarto, em Salvador, era decorado com pôsteres de Elvis, e ele usava topete, jaqueta e imitava os trejeitos do ídolo. Mais tarde, em várias entrevistas, Raul diria: “Eu sou a mosca na sopa do Brasil, porque Elvis me picou.”

Com interpretações intimistas de standards como “My Funny Valentine”, Chet trouxe ao jazz um erotismo melancólico. Sua voz parecia sussurrar ao ouvido do ouvinte solitário num clube à meia-noite.

Apesar do talento, sua vida foi marcada por vícios e tragédias. Chet Baker morreu em Amsterdã em 1988, caindo da janela de um hotel. Sua música, no entanto, continua viva — como o suspiro de um sonho interrompido.

💔 Casamentos e Relações Amorosas

Raul viveu cinco casamentos oficiais:

  1. Edith Wisner – com quem teve sua primeira filha, Simone.

  2. Glória Vaquer – mãe de Scarlet Seixas.

  3. Tânia Menna Barreto – Tânia Menna Barreto foi a terceira esposa de Raul Seixas e esteve ao seu lado por cerca de três anos, contribuindo com sua carreira musical e assinando algumas de suas músicas. Recentemente, Tânia lançou um livro intitulado “Pagando Brabo: Raul Seixas na Minha Vida”, onde compartilha detalhes da sua vida ao lado do cantor.

  4. Kika Seixas (Ângela Affonso Costa) – com quem teve Vivian Seixas e viveu um dos romances mais intensos e conturbados.

  5. Lena Coutinho – última companheira, com quem Raul viveu seus últimos anos, marcada por doença e reclusão.

Esses relacionamentos influenciaram diversas músicas de Raul, que muitas vezes misturava vida pessoal com composições, como na tocante “Cowboy Fora da Lei” e na ácida “Eu Também Vou Reclamar”.

📀 Discografia Marcante

Rau Seixas

Raul gravou 17 discos de estúdio. Entre os mais importantes:

  • Krig-Há, Bandolo! (1973)

  • Gita (1974)

  • Novo Aeon (1975)

  • Há 10 Mil Anos Atrás (1976)

  • O Dia em que a Terra Parou (1977)

  • Mata Virgem (1978)

  • Por Quem os Sinos Dobram (1979)

  • Abre-te Sésamo (1980)

  • A Pedra do Gênesis (1988)

  • Panela do Diabo (1989) – gravado com Marcelo Nova, o último disco em vida

Cada álbum trazia uma nova proposta estética e temática, mas todos mantinham a essência rebelde e mística de Raul, que se considerava um “sacerdote do rock”.

🍷 A Luta Contra o Álcool e o Declínio (1980–1989)

Raul Seixas

Nos anos 80, Raul entrou em um processo de autodestruição. O vício em álcool se intensificou, assim como as internações, crises de saúde e shows cancelados. Gravadoras passaram a rejeitar suas ideias e sua figura tornou-se cada vez mais marginalizada pela mídia.

Mesmo assim, Raul seguiu compondo e realizando shows esporádicos. Em 1987, conheceu Marcelo Nova, vocalista do Camisa de Vênus, que o convenceu a retomar a carreira com o projeto do disco Panela do Diabo.

O disco, lançado em 1989, foi um retorno digno e profundo. 

Raul Seixas e o músico Marcelo Nova

A Morte de Raul Seixas

Em 21 de agosto de 1989, Raul foi encontrado morto em seu apartamento, em São Paulo, vítima de uma pancreatite aguda provocada pelo alcoolismo. Ele tinha apenas 44 anos.

Ao lado de seu corpo, estavam um copo de uísque, remédios para diabetes e livros de ocultismo. Em 22 de agosto de 1989, milhares de fãs foram ao cemitério Jardim da Saudade, em Salvador. Lá, entoaram espontaneamente a canção “Maluco Beleza” enquanto o corpo de Raul era sepultado. Foi um dos momentos mais emocionantes da música brasileira — e o início do mito eterno de Raulzito.

📻 O Legado do Maluco Beleza

Raul Seixas: Plunct Plact Zum

Raul Seixas não foi apenas um cantor ou compositor. Foi um pensador, provocador e cronista do absurdo brasileiro. Suas letras anteciparam discussões sobre liberdade individual, espiritualidade, alienação social e contracultura. Ele foi o Elvis brasileiro, o profeta do rock tupiniquim.

Mesmo após sua morte, Raul continuou vendendo discos, influenciando gerações e sendo celebrado em eventos, livros, biografias, filmes e, mais recentemente, no seriado da Globo que reacendeu a curiosidade sobre sua vida.

Como canta o próprio Raul em “Maluco Beleza”:

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza

Raul, ao final da vida, não conseguiu controlar muito bem a “maluquez”, partiu no “Plunct Plact Zum” com somente 44 anos — deixou seus antigos e novos fãs com imensa saudade, bem como uma marca duradoura na música brasileira. 

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