Joelma Giro: a Professora da Emoção

Quando o famoso Roberto Carlos ainda era um guri arteiro, com seus cinco anos, uma linda menina nascia pelas bandas de Cachoeiro de Itapemirim (ES). Isso se deu em 19 de setembro de 1945. A garotinha foi batizada com o belo nome de Joelma. Ainda bebê, veio com sua família aqui para o Rio de Janeiro, estabelecendo-se no município de Duque de Caxias. 

Com seis anos, ajudando na limpeza da área em que ficavam os cabritinhos da família, ela pegava a vassoura, abria o sorriso e soltava a voz bem colocada, que ecoava, indo até ao barzinho das proximidades, despertando a admiração do comerciante e fregueses. A comadre de sua mãe também tecia vários elogios. Assim, Joelma Giro (ou simplesmente Joelma, como ficou conhecida), descobriu-se cantora. Desde muito cedo, a pequena garota mostrou que tinha uma alma cantante, completamente apaixonada pela música. Não demorou e ela estava se apresentando na Rádio Difusora de Caxias – emissora AM, na qual trabalhei tempos depois -. Na Difusora, ela ganhou todos os concursos. Com sua voz afinada encantava as plateias e evidenciava o talento que possuía para a vida artística.

Na festa de aniversário da rádio Difusora de Caxias, encantou com sua magnifica voz nada mais nada menos que, Emilinha Borba. Ao ouvir Joelma cantar “Chão de Estrelas”, o clássico de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, a saudosa rainha do rádio não pensou duas vezes, pegou a garotinha de Caxias e a levou para se apresentar no popular programa Papel Carbono, apresentado por Renato Murce, na “PRE-8”, ou Rádio Nacional, se preferir. O ano era 1953. Só para constar, o programa de Murce foi um celeiro de estrelas. Atenção para alguns nomes que passaram por ele: Angela Maria, Os Cariocas, Doris Monteiro, Agnaldo Rayol, Roberto Carlos, Baden Powell e muita gente boa. Joelma era uma pré-adolescente e já conquistava fãs nas ondas sonoras. 

Joelma enfrentou os palcos de shows de calouros de várias emissoras, inclusive, o programa de Ary Barroso, conhecido por sua genialidade nas composições e por ter sido implacável com os aspirantes ao canto que iam ao seu programa de rádio, na Tupi. Barroso não gongou nossa estrela, mas não perdeu a oportunidade para corrigir um deslize na letra da canção “Risque”, do próprio Ary. Isso foi lá pelo final dos anos 1950, quando Roberto Carlos já estava no Rio.

No início de década de 1960, com a efervescência da “Beatlemania”, o rock dominando o planeta e o pré-nascimento da Jovem Guarda, Joelma, finalmente, realiza um sonho: grava seu primeiro disco! Foi em 1963, pela gravadora Chantecler, interpretando o bolero “Incompreendida”, de Leonel Cruz e José Antônio e o samba canção “Só ele”, de Roberto Muniz e Heitor Mangeon.  Em 1966, gravou o LP “Joelma”, também pela Chantecler, interpretando composições como “Balada do Sol”, de Moacyr Franco e Jean Miranda; “Pra Que Sonhar”, de Adelaide Chiozzo e Carlos Matos, e “Sim”, de Sérgio Reis, além de duas composições de sua autoria: “Eu Não Quero” e “Não Me Deixes Não”, esta última, uma versão sua para “Je Ne T’Aime Plus”, de Christophe.  Entre seus grandes sucessos estão: “Não diga nada” (1965), “Perdidamente te amarei” (1966), “Não te quero mais” (1967), “Esta tarde vi chover” (1968) e “Aqueles tempos”, canção gravada em 1968, versão de Fred Jorge para “Those Were The Days”, o hit ficou nas paradas de sucesso em todo país. Além dessas, outras músicas marcam a trajetória vitoriosa da artista. 

A cantora se formou professora, ainda bem jovem, um motivo de orgulho para muitos mestres, especialmente, os de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, que sempre tiveram um carinho grande por ela. Apesar do carisma e talento para o ensino, deixou o magistério para seguir o sonho de cantar e levar a emoção através de sua voz. Joelma recebeu inúmeros prêmios, participou de vários programas de TV, ficou conhecida em Portugal, França, Inglaterra e toda América do Sul. Das mulheres da Jovem Guarda, era uma das poucas que compunham suas músicas. O tempo que passou não conseguiu apagar seus feitos no disco, seus belíssimos registros no vinil.  Poucas vezes, se ouviu no rádio, na vitrola, ou CD, interpretações tão explosivas de emoção tal qual as gravações da artista que saiu tão novinha de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, para conquistar o Brasil.  Se, a escola perdeu a regente do ensino, os discófilos e apaixonados pela música receberam uma verdadeira aula de canto. Os fãs de Joelma sempre lhe deram nota dez!

Joelma – Aqueles Tempos (1968)
(Those Were The Days) (G. Raskin / Vrs. Fred Jorge)