A pergunta que a nova geração faz: “Quem é esse tal de Sérgio Reis, tão falado em 2021 nos momentos que antecedem ao 7 de setembro?”. Na verdade, seu nome é Sérgio Bavini, um pouco diferente do artístico. O cantor, compositor e ator nasceu em São Paulo, Zona Norte, no dia 23 junho de 1940, tem 81 anos. Sua família é de ascendência italiana.

Ainda bem novo, um adolescente, já aprendera que a vida não é moleza. Com seu avô, trabalhava diariamente em uma fábrica de papelão, ao lado de seu tio Henriquinho. Na labuta, ouvia regularmente na Rádio Nacional o programa Na Beira da Tuia, apresentado por Tonico (1917-1994) & Tinoco (1920-2012). Encantado com a música que chegava aos seus ouvidos pelas ondas sonoras, ganha de presente uma viola Giannini e como a maioria de sua época, vai à luta, busca seu sonho frequentando programas de calouros no rádio e na televisão, e isso, com 16 anos. Apresentava-se cantando boleros, modas caipiras e canções italianas.

Sérgio Reis, o moço em 1962 grava o rock “Lana”
Ao final da década de 1950 o rock estava enlouquecendo o mundo, e fazendo a cabeça do ainda Sérgio Bavini, especialmente, por conta de Elvis Presley (1935-1977), Neil Sedaka e Paul Anka, suas influências. Adotou então, o sobrenome materno, dedicou-se ao instrumento e trilhou a jornada decidido a ser músico. Teve a sua estreia no disco com um 78 RPM (rotações por minuto), em 1961, com “Enganadora”, um bolero de Umberto Silva, Luiz Mergulhão e Souza Lima, e ainda “Será” (Valdemar Garcia), obras que foram lançadas em setembro desse ano, pela gravadora Chantecler. Em 1962, também pela Chantecler, grava o rock “Lana”, de Roy Orbison e Joe Melsen, em versão de Carlos Alberto, e o calipso “Porque sou bobo assim”, de Keller, Hunter, Osvaldo Scaldelay e Jair Fernandes. Percebendo que o rock, naquele momento, era um bom caminho para trilhar, em meados de 1960, aproximou-se da turma da Jovem Guarda, despontando como um dos compositores dos astros do movimento. Compôs canções para Jerry Adriani (1947-2017), G0lden Boys, Os Vips, Deny & Dino, Nalva Aguiar e outros. Também frequentou o programa de Roberto e Erasmo Carlos e o de seu parceiro Eduardo Araújo.

 

Sergio Reis, disco Coração de Papel (1967)
Após um período de aproximação dos cantores que despontavam e de muitas participações em programas de TV, lança em 1967 seu primeiro LP, com um de seus maiores sucessos “Coração de Papel”, dele mesmo, e ainda, “Amor Nada Mais”, que foi uma belíssima adaptação de Fred Jorge (1928-1994) para a canção de John Lennon e Paul McCartney, “Here, There And Everywhere”. Apesar do sucesso que fez à época da Jovem Guarda com rocks e baladas, decide-se tempos depois pela música caipira, onde deu sua contribuição para a renovação desse gênero.
Sergio Reis, disco O Menino da Gaita (1973)


Já em 1973, lança seu terceiro álbum, com a canção “O Menino da Gaita”, versão para a música do espanhol Fernando Arbex e regravou “O Menino da Porteira” (Teddy Vieira e Luizinho). Essa faixa se tornou um clássico. Diferentemente dos álbuns anteriores que abordavam mais as questões românticas, esse falava também da vida caipira e da religião. Foi Tony Campelo, cantor e produtor musical quem assinou a produção desse bem-sucedido disco de Sérgio.

Reis no filme O Menino da Porteira (1977)


Com o sucesso na música vieram outros desafios. Sérgio Reis ingressou na carreira de ator, sempre com seu estilo de vaqueiro, usando chapéus, botas e berrante a tiracolo. Destacou-se no filme O Menino da Porteira (1977), aos 36 anos, e Mágoa de Boiadeiro (1978), ambos de Jeremias Moreira Filho, Filho Adotivo (1984), de Deni Cavalcanti. Nas telinhas, marcou com personagens nas novelas Paraíso (Globo, 1982), Pantanal (Manchete, 1990), O Rei do Gado (Globo, 1996), Canaviais da Paixão (SBT, 2003) e Bicho do Mato (Record, 2006). Sérgio declarou: “É muito gostosa essa experiência de ator”.

Sérgio Reis e Almir Sater na novela O Rei do Gado
(Foto reprodução TV Globo)


O que mais poderia fazer o músico que desejou e conseguiu ser o que queria no mundo artístico? Quando ninguém esperava por isso, Sergio Reis decide entrar para a política. Em 2014 ele foi eleito deputado federal pelo PRB de São Paulo. De acordo com o cantor a motivação veio de suas andanças pelo país, quando se deparou com muitos problemas sociais, sobretudo, na área da saúde, e por isso, todas as suas emendas parlamentares foram destinadas à saúde, além disso, doou seu salário mensalmente para projetos sociais.

Sergio Reis como deputado, atuando em causas sociais


Ainda na música, seu sucesso contribuiu para o avivamento do gênero sertanejo, especialmente nos anos 1970, ao lado de nomes como Léo Canhoto e Robertinho, Milionário e José Rico, bem como, os que se destacaram nas décadas seguintes, como Chitãozinho e Xororó, Leandro & Leonardo e Zezé Di Camargo e Luciano. A gratidão é uma marca do cantor, sempre que pode agradece aos que lhe abriram as portas. Ao longo de sua carreira, o músico que mistura berrantes, violas, gaitas, sanfonas, flautas e violinos em suas canções, tem uma discografia de mais de 60 títulos, venceu duas vezes o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja, em 2001 e 2009 e já vendeu mais de 16 milhões de discos. Também foi apresentador de TV, com passagens pela Manchete e SBT.

Livro “Sérgio Reis, Uma Vida, Um Talento”

Simpatizante do presidente Jair Bolsonaro, ele olha com descrédito para o Brasil contemporâneo: “Está tumultuado o país. A gente não sabe o que vai acontecer. Está muito triste a gente viver neste país”. Lamenta, lembrando-se que o seu caçula foi embora para Portugal com a mulher e os dois filhos. O artista deixou sua marca para sempre em nosso cancioneiro e quem quiser saber um pouco mais, pode ter detalhes de sua carreira e vida pessoal no livro “Sérgio Reis: Uma Vida, Um Talento”, biografia de Murilo Carvalho lançada pela editora Tinta Negra.

Sérgio Reis – Coração de Papel