
Poucos artistas conseguiram transitar por tantos gêneros musicais e permanecer relevantes ao longo de décadas como Sérgio Reis. Nascido como Sérgio Bavini, em 23 de junho de 1940, na Zona Norte de São Paulo, o cantor, compositor e ator é descendente de italianos e desde muito jovem mostrou paixão pela música.
A adolescência de Sérgio foi marcada por dificuldades. Trabalhou com seu avô e seu tio Henriquinho em uma fábrica de papelão. Nessa época, enquanto exercia funções pesadas para a idade, escutava com encantamento o programa Na Beira da Tuia, na Rádio Nacional, apresentado pela dupla Tonico & Tinoco. Inspirado por essas influências, ganhou uma viola Giannini e, aos 16 anos, começou a se apresentar em programas de calouros no rádio e na TV, interpretando boleros, modas de viola e canções italianas.
No final dos anos 1950, o rock tomou conta do mundo. Sérgio foi fortemente influenciado por artistas como Elvis Presley, Neil Sedaka e Paul Anka. Decidido a seguir carreira musical, adotou o sobrenome materno “Reis” e lançou seu primeiro disco em 1961 pela gravadora Chantecler. O compacto de 78 RPM trazia as faixas “Enganadora“ e “Será“. Em 1962, gravou a versão brasileira de “Lana” (Roy Orbison) e o calipso “Porque Sou Bobo Assim”.
No início da década de 1960, Sérgio Reis se aproximou da turma da Jovem Guarda, compondo para nomes como Jerry Adriani, Golden Boys, Os Vips, Deny & Dino e Nalva Aguiar. Frequentou programas apresentados por Roberto e Erasmo Carlos e por Eduardo Araújo, consolidando sua posição como um dos artistas versáteis da época.
Em 1967, lançou seu primeiro LP, que trazia o sucesso “Coração de Papel“, de sua autoria, e “Amor Nada Mais”, versão de Fred Jorge para a clássica “Here, There And Everywhere”, de Lennon & McCartney. Apesar do sucesso nas baladas e rocks, Sérgio sentia-se cada vez mais ligado à música caipira.
Em 1973, no seu terceiro álbum, Sérgio Reis consolidou a mudança de estilo. O disco trouxe “O Menino da Gaita” e uma regravação de “O Menino da Porteira” — canção que se tornaria um clássico da música sertaneja. O álbum também abordava temas religiosos e a vida no campo. Produzido por Tony Campelo, o trabalho foi um divisor de águas em sua carreira. O álbum firmou seu lugar como um dos maiores intérpretes do sertanejo de raiz.
Com seu visual marcante de chapéu, botas e berrante, Sérgio também se destacou como ator. Estrelou filmes como O Menino da Porteira (1977), Mágoa de Boiadeiro (1978) e Filho Adotivo (1984). Na televisão, participou de novelas como Paraíso (Globo, 1982), Pantanal (Manchete, 1990), O Rei do Gado (Globo, 1996), Canaviais da Paixão (SBT, 2003) e Bicho do Mato (Record, 2006). Segundo ele, atuar foi uma experiência “muito gostosa”.
Em 2014, surpreendeu a todos ao se eleger deputado federal pelo PRB de São Paulo. Segundo o próprio cantor, a motivação surgiu em suas viagens pelo Brasil, ao testemunhar de perto os problemas sociais, especialmente na área da saúde.
Durante o mandato, destinou todas as suas emendas parlamentares à saúde pública e doou seu salário mensalmente para projetos sociais. Seu envolvimento político mostrou um lado solidário e engajado do artista.
Sérgio Reis é um dos artistas mais completos e respeitados da música brasileira. Ele conseguiu unir, com naturalidade, o romantismo e a rebeldia da Jovem Guarda com a tradição e a autenticidade da música caipira, tornando-se uma ponte viva entre dois mundos aparentemente distintos. Sua trajetória é marcada por reinvenções bem-sucedidas, talento multifacetado e uma capacidade singular de se conectar com diferentes gerações.
Sua voz grave e inconfundível se tornou símbolo de autenticidade. Ao longo das décadas, ele ajudou a manter viva a cultura sertaneja tradicional, ao mesmo tempo em que modernizou esse estilo, influenciando gerações de músicos e cantores. Sua música não apenas emociona, mas conta histórias, resgata raízes e conecta o Brasil urbano com o Brasil rural.
Além disso, Sérgio Reis também contribuiu para a formação de um repertório essencial da música nacional. Canções como “Panela Velha”, “Menino da Porteira” e “Adeus Mariana” são verdadeiros clássicos, presentes até hoje em festas, rádios e reuniões familiares. Sua carreira é uma síntese do Brasil profundo — aquele que canta a terra, o amor simples, a fé e o cotidiano do interior.
A importância de Sérgio Reis vai além da música. Ele é um símbolo de coerência, respeito às origens e compromisso com sua arte. Com mais de 60 álbuns lançados, milhões de cópias vendidas e prêmios importantes em sua trajetória, ele segue sendo uma referência incontornável no cenário musical brasileiro.
Álbuns de Estúdio (destaques):
Sérgio Reis (1967) – inclui o sucesso “Coração de Papel”
Sérgio Reis (1973) – com “O Menino da Gaita” e “O Menino da Porteira”
Cavaleiro do Amor (1978)
Panela Velha (1982)
Sérgio Reis e Filhos (1986)
Viola Sertaneja (1996)
Amigos e Canções (2001) – Grammy Latino
Coração Estradeiro (2009) – Grammy Latino
Questão de Tempo (2010)
Sérgio Reis & Renato Teixeira – Amizade Sincera (2010)
Amizade Sincera II (2015)
50 Anos de Estrada – Ao Vivo (2018)
2x Vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Sertaneja:
Amigos e Canções (2001)
Coração Estradeiro (2009)
Troféu Imprensa:
Cantor do Ano (diversos anos na década de 1980)
Prêmio Sharp de Música:
Melhor Cantor Sertanejo (1990)
Indicado ao Prêmio da Música Brasileira
Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo (1997)
Homenagem da Câmara dos Deputados por sua contribuição à cultura brasileira (2015)
Indicado ao Latin Grammy em outras ocasiões além das vitórias
Sérgio Reis é, sem dúvida, uma lenda viva. Seu legado permanece como fonte de inspiração para artistas e amantes da boa música em todo o país.
Aos 80 anos, Sérgio Reis segue ativo e com opiniões marcantes. Simpatizante declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro, expressa preocupações com os rumos do país:
“Está tumultuado o país. A gente não sabe o que vai acontecer. Está muito triste a gente viver neste país”, disse, lamentando a partida do filho caçula para Portugal com a família.
Quem deseja conhecer mais sobre sua trajetória pode recorrer à biografia Sérgio Reis: Uma Vida, Um Talento, escrita por Murilo Carvalho e publicada pela Editora Tinta Negra.