Recordar é Viver: A Era das Antigas Fitas K7

No mundo da música, a evolução tecnológica tem sido constante, e uma das revoluções mais marcantes ocorreu na década de 1960 com o surgimento das fitas cassete, popularmente conhecidas como fitas K7.

A fita cassete era uma alternativa compacta e conveniente às fitas magnéticas de rolo e discos de vinil, que eram os formatos dominantes na época. Ela utilizava uma fita magnética em uma carcaça plástica, o que a tornava mais portátil e fácil de usar. Além disso, os gravadores e tocadores de fita cassete ficaram  mais acessíveis, especialmente, nas décadas de 1970, 1980 e 1990 quando atingiram seu auge. Fatores que contribuíram para o sucesso da K7:

  1. Portabilidade: As fitas cassete eram leves e fáceis de transportar, tornando-as ideais para gravação de músicas pessoais, mixtapes e compartilhamento entre amigos.

  2. Gravação caseira: A fita cassete permitia que as pessoas gravassem suas próprias mixagens de músicas a partir de LPs, rádio ou outras fontes. Isso era especialmente popular entre os jovens, que criavam fitas com músicas favoritas ou dedicatórias.

  3. Automóveis: A fita cassete também se tornou um padrão nos sistemas de som de automóveis, tornando-se o formato de escolha para ouvir música enquanto dirigia.

  4. Economia: Tanto as fitas cassete virgens quanto os dispositivos de gravação e reprodução eram relativamente baratos, tornando a tecnologia acessível a uma ampla gama de consumidores.

Fia k7 de Agostinho dos Santos

A Era das Fitas K7

Vários modelos de fitas K7

As fitas K7 foram introduzidas no mercado pela empresa holandesa Philips, em 1963. Elas se tornaram um sucesso imediato, especialmente por serem uma alternativa mais compacta e portátil às volumosas fitas de rolo. Logo, outras empresas como a Sony aderiram à tendência, e as fitas K7 ganharam popularidade global.  Com apenas 10 cm x 7 cm, as fitas K7 economizavam espaço e permitiam que as pessoas gravassem e reproduzissem som de forma acessível.

O Auge nos Anos 70 e 80

Walkman, o famoso reprodutor de fitas K7

Durante as décadas de 1970 e 1980, as fitas K7 eram o meio preferido para gravar e ouvir música. Elas ofereciam uma maneira revolucionária de acessibilidade à música antes da era do streaming, da nuvem e dos CDs. Apesar da qualidade inicial comprometida devido à estreita largura da fita e à velocidade reduzida, recursos tecnológicos foram incorporados ao longo do tempo, melhorando significativamente a qualidade do som. Novas camadas magnéticas, cabeças de gravação e reprodução aprimoradas e filtros para redução de ruídos contribuíram para essa melhoria.

A Revolução na Música

As fitas K7 desempenharam um papel fundamental na democratização da música. Pela primeira vez, as pessoas podiam gravar suas músicas favoritas diretamente da rádio ou de outros meios de reprodução, criando suas próprias playlists caseiras. Esse fenômeno permitiu que a música se tornasse mais acessível a todos.

Além disso, a portabilidade das fitas K7 tornou possível ouvir música em qualquer lugar, desde carros até os famosos walkmans. A mobilidade que as fitas proporcionavam permitiu que as pessoas levassem sua música consigo, tornando as longas viagens e caminhadas mais agradáveis.

 

Fita modelo Smal Size

A Prática Romântica dos Namorados

casal ouvindo fita kt

As fitas K7 também desempenharam um papel romântico. Namorados costumavam gravar trilhas sonoras personalizadas para presentear a pessoa amada. Quem não se lembra de esperar ansiosamente pela música favorita no rádio e apertar o botão “REC” para capturá-la? Essa possibilidade proporcionada pelas fitas K7 garantiu seu charme e carinho, especialmente nas décadas de 1980 e 1990.

A Importância na Indústria Musical

Album BAD Michael Jackson
Fita K7 Michael Jackson "BAD" sendo reproduzida no Tape Deck Philips

Além de serem populares entre os amantes, as fitas K7 também tiveram impacto na indústria musical. Muitos discos lançados entre as décadas de 1970 e 1980 tinham suas versões em fitas K7, tornando-as práticas para ouvir no carro e em qualquer lugar. A qualidade excepcional das fitas pré-gravadas também contribuiu para sua relevância.

As fitas K7, também conhecidas como cassetes de áudio, desempenharam um papel crucial na indústria musical e na forma como as pessoas consumiam música. Vamos explorar sua relevância e impacto:

  • Antes das fitas K7, os discos de vinil eram o principal meio de reprodução musical. No entanto, eles eram grandes, frágeis e não eram práticos para uso portátil.
  • As cassetes, lançadas oficialmente em 1963 pela Philips, ofereceram uma alternativa revolucionária. Com seu tamanho compacto de 10 cm x 7 cm, as fitas eram fáceis de transportar e armazenar. Isso permitiu que as pessoas ouvissem música em qualquer lugar, seja em casa, no carro ou em dispositivos portáteis (walkman).
  • As fitas K7 desempenharam um papel fundamental na difusão da música underground e alternativa. Sua durabilidade e facilidade de cópia ajudaram a levar o rock e o punk a novos públicos.
  • Embora, inicialmente, a qualidade do som fosse comprometida devido à estreita largura da fita e à velocidade reduzida, recursos tecnológicos foram incorporados ao longo do tempo, melhorando significativamente a reprodução das músicas.

A Cultura da Mixtape

Um dos mais badalados gravadores e reprodutores de fitas K7, marca Gradiente

Um dos aspectos mais marcantes das fitas K7 foi a cultura da mixtape (ou das playlists, termo mais comum entre os brasileiros). As pessoas criavam mixtapes personalizadas para amigos, familiares ou paqueras, adicionando suas músicas favoritas, mensagens e até mesmo declarações de amor. As mixtapes eram um meio de expressão e comunicação, e muitos relacionamentos se formaram e se fortaleceram através delas.

As mixtapes são coleções de músicas ou gravações que podem incluir faixas de diferentes gêneros musicais, muitas vezes compiladas por DJs, artistas ou entusiastas da canção. Elas são uma parte importante da cultura musical, especialmente no hip-hop e em outros gêneros urbanos.  As coleções também eram feitas em gravadores caseiros com a finalidade de serem trilhas para vários momentos do dia a dia: lavar louça, animar uma festa de aniversário, churrasco, embalar as emoções do namoro etc.

Mixed By Erry

O premiado filme "Mixed By Erry" conta a história real de três irmãos que ficaram ricos com a pirataria via fita K7

O filme “Mixed By Erry” está no catálogo da Netflix e aborda a história real de Enrico (Luigi D’Oriano), ou Erry, que sempre teve o sonho de ser DJ e assim levar a música para os jovens. Por ter poucas condições financeiras, esse sonho acabou se tornando muito distante. Quando a loja de discos onde ele trabalha, como servente, fecha e o dono deixa para ele os discos não vendidos como rescisão de contrato, ele vê uma oportunidade de ouro para propagar música e ganhar dinheiro ao mesmo tempo: criar fitas piratas junto de seus dois irmãos Peppe (Giuseppe Arena) e Ângelo (Emanuele Palumbo). O jovem iniciou “industrialmente”, o que muita gente fazia em casa com seus aparelhos 3×1 (três em um), começou a fazer ótimas seleções musicais com os discos de vinil, replicou em várias fitas k7 e colocou tudo à venda. Fez muito dinheiro e sua “gravadora” teve grande repercussão na década de 1980.  Claro, não poderia terminar muito bem essa história. Os detalhes você confere na boa produção “Mixed By Erry”, filme italiano de 2023.

A Obsolescência das Fitas K7

No entanto, com o avanço da tecnologia, as fitas K7 começaram a perder espaço. Os CDs, e posteriormente os formatos digitais como MP3, assumiram a dianteira. A qualidade de som superior e a facilidade de armazenamento tornaram esses novos formatos mais atraentes.

Em meados dos anos 2000, as fitas K7 eram vistas como obsoletas, relegadas ao status de uma relíquia nostálgica. No entanto, nas últimas décadas, houve um ressurgimento surpreendente das fitas K7, principalmente entre colecionadores e entusiastas da música vintage.

O Retorno das Fitas K7

Curiosamente, as fitas K7 estão vivendo um renascimento. Desde 2017, elas têm experimentado um revival, e em 2020, alcançaram o maior número de vendas desde 2003. Músicos e profissionais de estúdio valorizam a qualidade sonora do formato analógico, e a manutenção das fitas K7 é mais fácil em comparação com arquivos digitais. Muitas bandas independentes começaram a lançar seus álbuns em fitas K7 como parte de um movimento de resgate do formato analógico. Além disso, a estética retrô das fitas K7 tornou-se uma tendência na cultura pop e na moda.

Os colecionadores de vinil encontraram nas fitas K7 uma extensão natural de seu amor pela música analógica. O som “quente” e nostálgico das fitas ganhou apelo entre aqueles que buscam uma experiência auditiva única e um vínculo com o passado.

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