Não tem jeito. Chega o nono mês do ano, então, “vasculhamos as gavetas” e lembramos de Vanusa por conta da obra “Manhãs de Setembro”.  É dela o registro em disco de uma das canções mais queridas dos “discófilos” e que fala da superação de alguém que solta as amarras, permite-se, independentemente das agruras que a vida lhe entregara, a olhar adiante com mais esperança. Essa mulher da letra decide se esforçar para sair de dentro de si, para cantar e experimentar as belezas das manhãs, em um voo de pura liberdade.

Vanusa, uma das gatas da Jovem Guarda!

Analisando a letra, somos obrigados a admitir que todos nós já tivemos os nossos momentos de “noite fria”, “tarde de tristeza”, sem sol, e sem as melhores cores da existência. No entanto, não há problema que dure para sempre, e chega o momento de sair do casulo de tristeza, de olhar para o alto com fé, receber a primavera do viver com gratidão, sair por aí, cantar com o vizinho, ou com quem quiser, a nova fase, a dádiva que é poder abrir os olhos em uma nova estação e reescrever nossa história com a graça de Deus. Mais do que uma melodia de confronto, “Manhãs de Setembro” é uma injeção de alegria.

Vanusa, sucesso nas gravadoras RCA Victor e Continental 
Lançada em pleno regime militar (1973), a letra, romântica à primeira vista, esconde um contundente discurso político. “Fui eu que em primavera só não viu as flores”, canta em referência a “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores“, de Geraldo Vandré. Entretanto, o tempo passou, os governos também, e a bela canção acabou virando um hino de esperança e liberdade para todas as épocas. Ao trocar a gravadora RCA pela Continental, Vanusa dá início ao período de maior popularidade com a música Manhãs de Setembro, dela e de Mário Campanha. O produtor Wilson Miranda não acreditava no sucesso comercial da faixa e queria deixá-la de fora do disco que a cantora estava gravando. Vanusa fez pressão, venceu a batalha e a balada desacreditada, e que ao mesmo tempo tinha a aposta da arstista, foi para o topo das paradas de sucesso.  

Disco O Mundo Colorido de Vanusa (RCA Victor)

 

A intérprete não é simplesmente a mulher que desafinou o Hino Nacional, fato que, deveu-se ao estado de saúde da cantora à época, e que acabou virando “memes” na Internet. O povo, de pouca memória, esqueceu-se do talento e da carreira vitoriosa de quem recebeu tantos prêmios e que tantos êxitos teve na jornada artístisca. Ao longo de suas atividades, gravou 23 discos e vendeu mais de três milhões de cópias. Representou o país em vários festivais internacionais e recebeu cerca de 200 prêmios.

Vanusa Santos Flores nasceu em 22 de setembro de 1947, era paulista, da cidade de Cruzeiro. Foi lançada pelo cantor Eduardo Araújo. Estourou nas paradas com a canção “Pra Nunca Mais Chorar” (1967), de Araújo e Carlos Imperial. Também foi ótima letrista!  São obras dela “Manhãs de Setembro”, “Mundo Colorido”, “Perdoa”, “Eu não quis Magoar Você”, “Rotina”, “Pode Ir Embora”, “Espelho”. Todas essas faixas têm Vanusa como compositora, lançadas em uma época em que os cantores se consagravam principalmente como intérpretes. Merecedora de reconhecimento do público por décadas e da maioria da classe artística, é dela a inesquecível gravação de “Paralelas”, de Belchior.  A artista nos deixou aos 73 anos, em 8 de novembro de 2020. Bem antes disso, presenteou-nos com um dos hinos mais emblemáticos do mês das flores. A canção “Manhãs de Setembro” é tão linda que pode acordar a primavera que existe dentro de mim e você, e com ela, a saudade de Vanusa. 


Vanusa – Manhãs de Setembro (1973)