Polêmica, atrevida, nervosa, talentosa, fantástica, emocional e com lindos olhos verdes…no disco, foi a rainha das dores de amor. Maysa Figueira Monjardim (sim, ela é mãe do diretor Jayme Monjardim) era tudo isso e um pouco mais. Entre as décadas de 1950 e 1960 a cantora chamou a atenção do país não apenas por sua bela voz, mas pela personalidade marcante – sua marca arrebatadora.

Cantora e compositora, filha de Inah e Alcebíades Monjardim, nasceu em 06 de junho de 1936, em São Paulo. Pertencia a uma rica e tradicional família do Espírito Santo. Aos 18 anos se casou com André Matarazzo – um dos herdeiros da família Matarazzo (industriais paulistas descendentes do Conde Matarazzo), quase vinte anos mais velho que ela.

Maysa, vestida para casar

O envolvimento com a música veio cedo, pois desde a adolescência já gostava de cantar em festas familiares e escrever letras de algumas canções (aos 12 anos compôs o samba-canção “Adeus”), além disso, tocava piano. Na juventude, a música já era uma paixão avassaladora. Seu grande prazer era criar enredos apaixonados, musicá-los e cantar.

 

Maysa, bem jovem (Acervo do Arquivo Nacional)

 

Incentivada pelo jornalista Roberto Côrte Real grava o primeiro disco autoral, Convite Para Ouvir Maysa (1956). Por imposição do marido, não pôde se vincular ao meio artístico, por isso seu rosto não aparece na capa do disco e a renda obtida é revertida à caridade. Em 1957, apresenta pela TV Record um programa exclusivo e grava seu segundo disco com suas canções “Ouça”, “Escuta Noel” e de outros compositores, como “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim.

Vinil de 1968, Os Grandes Sucessos de Maysa

Maya foi uma cantora fantástica dentro do gênero samba-canção, sua voz carregada de emoção dava um novo significado ao termo intérprete, pois seu canto era dramático, visceral e profundamente passional. Além disso, foi muito premiada em sua jornada artística, inclusive, com o Troféu Roquette Pinto de cantora revelação (1957) e melhor cantora do ano (1958). Em 1958, lança Convite Para Ouvir Maysa nº 2 – que traz o samba-canção “Meu Mundo Caiu”. Participa de quatro filmes, entre os quais O Cantor e o Milionário (1958) e O Batedor de Carteira.

Uma cantora de personalidade forte

A estrela do disco ficou conhecida como intérprete de canções de “dor de cotovelo”. Teve uma vida particular tumultuada e sua obra musical se confunde com sua persona, sempre em constante conflito sentimental. Destaca-se nos anos 1950 como principal compositora de samba-canção – ao lado de Dolores Duran – com o gênero romântico, influenciado pelo bolero. Seu repertório era cuidadosamente selecionado, e isso desde o início da carreira, com arranjos sofisticados e orquestrados. Entre as interpretações mais aclamadas estão “Ne me quitte pas” [Jacques Brel (1929-1978)], “Por causa de você” [Tom Jobim e Dolores Duran (1930-1959)], “Se todos fossem iguais a você” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), além de “Meu Mundo Caiu”, da própria.

 

Maysa Matarazzo e seu belíssimo olhar 

 

Maysa foi fenomenal! Deixou como compositora canções inesquecíveis que tiveram grande êxito na era do vinil e que estavam todos os dias nos melhores programas de rádio, à sua época. Mulher de atitude forte, quebrou paradigmas, amou intensamente, viveu o sonho de ser uma cantora, levou sua arte a vários países e escreveu seu nome na história de nossa música. Monjardim morreu no Rio de Janeiro, vítima de um acidente na Ponte Rio-Niterói, em 22 de janeiro de 1977. Conquistou uma legião de fãs com seu canto preciso e intimista, e claro, não podemos esquecer de seus lindos olhos verdes e bem delineados.

Maysa – Ouça [Maysa]
Cenas do filme O Camelô da Rua Larga,
produção de 1958.