Luiz Gonzaga – Légua Tirana estreia hoje e nos reconecta com o sertão e a alma do Brasil

Luiz Gonzaga, filme

Nesta quinta-feira, 21 de agosto de 2025, chega aos cinemas brasileiros uma cinebiografia esperada por admiradores da cultura nordestina: Luiz Gonzaga – Légua Tirana. Dirigido por Marcos Carvalho e Diogo Fontes, o longa traça os passos iniciais do jovem Luiz Gonzaga, desde o sertão de Exu (PE) até os primeiros acordes que ecoariam pelo país. Mais do que cinebiografia, é uma celebração do imaginário nordestino, do talento que transcendeu fronteiras, e da criação de um símbolo cultural que moldou a identidade brasileira.

Uma infância transformada em poesia

Ambientado na árida, porém vibrante, Chapada do Araripe, atravessando trechos de Pernambuco, Ceará e Piauí, e em Caiçara, na Paraíba, o filme escolheu cenários que são parte da geografia afetiva de Gonzaga. Essas paisagens servem como personagem — os tons amarelados da terra, o vento seco e o clima introspectivo criam um ambiente onírico e evocativo, um retrato cinematográfico do sertão onde nasceu o artista. A narrativa inicia com o menino que aprende os primeiros compassos da sanfona antes mesmo de dominar a escrita, carregando nas mãos e no coração a força bruta do sertão.

Chapada do Araripe
Entardecer na Chapada do Araripe (PE)

Os Intérpretes de Luiz Gonzaga

A escolha dos atores ajuda a construir essa narrativa sensível: Kayro Oliveira vive a infância de Gonzaga, Wellington Lugo assume a adolescência, e Chambinho do Acordeom, conhecido por seu trabalho em Gonzaga: De Pai Para Filho, representa a maturidade do artista. Essa transição de fases é conduzida com delicadeza, sem pressa, como quem respeita o tempo que o sertão exige.

Luiz Gonzaga
Kayro Oliveira
Luiz Gonzaga Légua Tirana
Wellington Lugo
Luiz Gonzaga Légua Tirana
Chambinho do Acordeon

Cinema com propósito: acolhimento, formação e inclusão

A produção quis ir além da ficção. Por meio de oficinas em Centros Socioeducativos do Ceará — Aldaci Barbosa Mota, Juazeiro do Norte e Dr. Zequinha Parente — jovens em cumprimento de medidas receberam formação audiovisual e atuaram como assistentes de produção. Essa escolha não apenas enriqueceu o elenco técnico com olhares autênticos do sertão como também tornou o cinema parte de um processo transformador social. Nesse sentido, Légua Tirana torna-se um gesto cultural consciente: contar uma história e criar oportunidades.

A importância cultural de Luiz Gonzaga na alma brasileira

O Rei do Baião
Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

Um parágrafo especial é merecido para falar da importância histórica de Luiz Gonzaga para a cultura nacional. Ele é fruto de uma época que buscava construir uma identidade brasileira plural — e sua contribuição vai muito além dos acordes da sanfona.

Como destacado pelo pesquisador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Gonzaga foi decisivo para popularizar a identidade nordestina, dando a ela sonoridade, modo de cantar, indumentária simbólica (cangaceiro/vaqueiro) e um modo de dizer que incorporava o popular à cultura nacional. Por meio do rádio e da indústria fonográfica de Vargas, suas canções viajaram ao redor do país, posicionando o Nordeste como força cultural central ao Brasil moderno.

O gênero baião, que ele moldou com Humberto Teixeira, levou prosa sertaneja ao grande público — com instrumentos típicos como sanfona, triângulo e zabumba —, e trouxe para dentro das casas brasileiras os sons do sertão-urbanizado. Se ainda existia preconceito contra o Nordeste, Gonzaga o quebrou com cada verso e cada nota.

Seu trabalho também foi decisivo para descentralizar a cultura de centros como Rio e São Paulo. Ele trouxe o Brasil inteiro para o sertão e fez do sertão parte de todo o país. Seu legado sobrevive em festas juninas, no Museu do Forró em Caruaru, em documentários, no forró pé de serra e no coração de várias gerações

Abaixo trechos de duas faixas inesquecíveis de Luiz Gonzaga

Um filme celebrado com prêmios e emoção

Antes da estreia nacional, o filme já acumulou reconhecimento em festivais: venceu Melhor Filme Júri Oficial, Melhor Roteiro, além de prêmios de público, direção de arte e trilha sonora no Festival de Triunfo Cultura e Economia Criativa. Na pré-estreia em Brasília, entusiastas da cultura nordestina reforçaram que contar a história de Gonzaga é também preservar um patrimônio imaterial do país — “dar voz ao Brasil profundo”.

Diálogo entre música, jogo de cena e memória afetiva

Em comparação com Gonzaga: De Pai Para Filho (2012), que se debruçava sobre sua relação com o filho Gonzaguinha, Légua Tirana é mais poético, menos biográfico e mais sensorial. O longa se aproxima do sertão com realismo mágico — imaginário e biográfico se entrelaçam — e apresenta personagens que guiam Gonzaga em sua travessia: pássaro açum-preto, cangaceiro que remete ao Lampião, seres simbólicos do imaginário popular.

Banner do filme Légua Tirana

O sertão como pulsação e inventividade sonora

A combinação entre narrativa visual, som e cultura popular faz de Légua Tirana obra que respira o sertão. O filme é um objeto político — ao valorizar o Nordeste como origem e potência central — e poético. Ele mostra que a música nasce da terra, da seca, da alegria dos bois, das festas e dos amores. É a celebração da cultura nordestina que Gonzaga levou ao Brasil e ao mundo.

Ficha Técnica

Título Original: Luiz Gonzaga – Légua Tirana
Direção: Diogo Fontes e Marcos Carvalho
Elenco: Kayro Oliveira, Luiz Carlos Vasconcelos,
Cláudia Ohana, Tonico Pereira e Chambinho do Acordeon
Roteiro: Tairone Feitora, Diogo Fontes, Edneia Campos
Gênero: Drama, Biografia
Duração: 1h54

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe isso:

Curtir isso:

Curtir Carregando...