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Apesar da qualidade musical das gravações e do reconhecimento do público e da crítica, o disco por pouco deixou de ser gravado. Em determinado momento das gravações, a atmosfera ficou tão tensa que Elis desistiu. Em uma ligação noturna para o seu empresário no Brasil (também idealizador do álbum que reunia a cantora e o maestro), Roberto de Oliveira, ela comunicou que que voltaria ao país. Oliveira, atordoado com o fato, pegou o próximo avião para Los Angeles com o intuito de apagar o “incêndio”. Ele conseguiu tranquilizar a “Pimenta”. Valeu a pena todo o esforço de Oliveira para salvar o álbum que, finalizado, transformou-se em uma preciosidade, considerado como um dos melhores de todos os tempos pela crítica.
Tom Jobim era muito seletivo quando escolhia intérpretes para suas canções. “Eu não gosto destas mulheres que cantam com o útero”, costumava brincar. O maestro era comedido em sua intepretação, ao estilo da Bossa e do Jazz, já Elis, era pura pimenta, muito explosiva em muitas de suas gravações, e não cantava apenas com o “útero”, cantava com o coração, pulmões, e a música parecia saltar por todos os lados quando ela abria a boca. Apesar das diferenças de estilos, os dois tinham repeito pelas carreiras um do outro, e apesar da dificuldade inicial criada pelos egos, desconfianças e preciosismos musicais, ao final de tudo, entenderam-se, perceberam que algo especial fora gerado no estúdio da MGM lá na terrra do Tio Sam. “Elis & Tom”, disco de 1974, surpreende pelos arranjos, letras de altíssimo nivel e a sintonia musical das estrelas de nosso cancioneiro.
Sobre o filme que estreou em setembro de 2023, a história é contada de forma sensível, destacando não apenas os momentos de criação musical, mas também os conflitos e desafios enfrentados por ambos os artistas. O filme captura a complexidade de suas personalidades e a paixão que eles tinham pela música, tornando-o não apenas uma narrativa sobre as canções, mas também sobre as vidas e emoções por trás delas.
A produção já recebeu elogios da crítica especializada. Elis & Tom, Só Tinha de Ser Com Você é um documentário dirigido por Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay que conta com imagens da gravação do antológico álbum que juntou a cantora Elis Regina com Antonio Carlos Jobim, e foi premiado como o Melhor Filme Brasileiro na 46ª Mostra de São Paulo. Sua trajetória teve início com projeções especiais no Festival do Rio 2022 e na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde foi calorosamente aplaudido e elogiado. Além disso, conquistou reconhecimento internacional ao ser apresentada no “Marché du Film” do prestigiado Festival de Cannes.
“Elis & Tom” é o título de um álbum que ocupa um lugar fundamental na história da música brasileira. A gravação aconteceu nos primórdios de 1974, em Los Angeles, e as imagens foram capturadas em película por uma equipe de cineastas liderada pelo diretor Roberto de Oliveira, o visionário por trás desse encontro único. Os rolos originais com as filmagens permaneceram guardados por 45 anos até serem restaurados e remasterizados em 2018. São essas preciosas imagens, até então nunca antes vistas, que guiam o enredo deste documentário musical.
O filme, intitulado “Elis e Tom, Só Tinha de Ser Com Você”, desvenda os bastidores e todos os desafios e tensões que permearam as gravações do álbum, chegando a um ponto crítico que quase levou ao cancelamento do projeto. No entanto, a força da música prevaleceu, conduzindo Elis Regina, Tom Jobim e um grupo de jovens músicos talentosos a uma verdadeira obra-prima.
Neste documentário, o espectador é transportado no tempo, vivenciando momentos de conflito e, ao mesmo tempo, de pura alegria, proporcionando uma visão íntima do processo criativo e das notáveis personalidades desses artistas. Além disso, a produção representa um emocionante reencontro do diretor com os artistas e o material cinematográfico gravado há quase cinco décadas.
Com o rosto limpo, sem maquiagem e vestindo uma blusa que parecia de dormir, sem muita sofisticação, Elis ficou completamente à vontade passado o período de estresse com as gravações. Ela tinha apenas 29 anos e era considerada uma estrela do mercado fonográfico, uma das maiores do Brasil. Diante de Tom, que faz alguns acordes ao violão de belas canções, inclusive, de “Caco Velho”, de Ary Barroso, a cantora mira o maestro com respeito e ternura, no instante em que Jobim toca a música de Barroso. Descontraída, a Pimentinha pergunta se o maestro gosta de Villa-Lobos e Pixinguinha, Tom, depois de um trago, responde: “São meus monstros sagrados. São as pessoas a quem copio”. Só se pode copiar a quem ama, emendou. Antonio Carlos Jobim estava com 47 anos à época das gravações.
A primeira vez que Elis Regina e Tom Jobim trabalharam juntos em um projeto musical ocorreu durante a gravação de “Elis & Tom” em 1974, nos Estados Unidos. Contudo, antes dessa parceria se concretizar, enfrentaram diversos obstáculos. Elis Regina estava enfrentando uma crise de imagem, principalmente devido à sua participação nas Olimpíadas do Exército durante o Regime Militar. Apesar de sua falta de apoio ao regime, ela concordou em se apresentar por medo de represálias, devido à falta de habilidade de seus empresários em lidar com os militares. Isso teve consequências desastrosas para a reputação da cantora, levando a uma visão negativa por parte de alguns setores da imprensa, do meio acadêmico e da intelectualidade.
Buscando se reerguer, Elis estava em busca de uma parceria com um músico renomado e prestigiado. O convite da gravadora Phonogram/Philips veio no momento certo, e foi assim que o empresário e produtor de Elis à época, Roberto de Oliveira, sugeriu a “dobradinha” com Tom Jobim, que, no exterior, estava lutando contra a falta de reconhecimento em seu próprio país. Tom desejava tornar-se mais popular no Brasil, enquanto Elis procurava unir-se a um músico de destaque naquela época, especialmente alguém que não estivesse envolvido com a política. Foi assim que nasceu o álbum “Elis & Tom”, um marco histórico na música popular brasileira.
Roberto de Oliveira sabia que essa parceria musical seria um sucesso, e por isso declarou que “1 mais 1 daria 20”, e deu. O disco ressoa até hoje. As duas estrelas da canção encheram o estúdio da MGM de arte, sensibilidade e talento durante as gravações em Los Angeles. Poucas vezes se viu, ou melhor, se ouviu, um disco tão perfeito. É claro que vale a pena conferir os bastidores e viver nas telonas, ou telinhas, o encontro que não acabou, ele vive nas ranhuras do vinil e na emoção de cada ouvinte que viaja nas notas musicais de Tom & Elis.
Elis & Tom, o filme estreou em setembro de 2023 e ainda está em cartaz em algumas salas, nos melhores cinemas do País.
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