Brian Wilson, arquiteto do “sonho californiano”, morreu aos 82 anos

Braian Wilson ao piano

11 de junho de 2025 – Los Angeles – Brian Wilson morreu, despede-se o lendário músico e compositor –  um dos fundadores dos Beach Boys e o cérebro criativo por trás de trilhas que moldaram a história da música pop. Tinha 82 anos e enfrentava um grave quadro de demência. Desde a perda de sua segunda esposa, Melinda Ledbetter, em janeiro de 2024, Brian estava sob tutela legal, cuidado por familiares e profissionais, conforme havia sido estipulado por um tribunal de Los Angeles em maio de 2024.

A família confirmou a causa da morte como complicações relacionadas à demência, sem detalhar além disso. O mundo da música perde um dos maiores visionários de todos os tempos.


A gênese de um gênio

Brian Douglas Wilson nasceu em 20 de junho de 1942, Hawthorne, Califórnia. O filho mais velho de três irmãos (Dennis e Carl) cresceu em um lar marcado pelo autoritarismo de seu pai, Murry Wilson — figura central em sua vida, tanto como mentor quanto como fonte de trauma. Murry, compositor frustrado, dirigia os filhos com rigor excessivo, usando seringas de abuso físico e psicológico — um contexto que entremeou a música de Brian de forma intensa e visceral.

Estes efeitos reverberaram em composições como “I’m Bugged at My Ol’ Man”, faixa do álbum Summer Days (And Summer Nights!!) (1965), onde Brian expressa a dor e a rebeldia contra seu pai. A música é um retrato cru dos abusos que o moldaram.

Os garotos da praia.
The Beach Boys - Os Garotos da Praia

A alquimia sonora: surf, carros e o “California sound”

Em 1961, Brian formou os Beach Boys com Carl, Dennis, o primo Mike Love e o amigo Al Jardine. O quinteto logo se tornou representante perfeito da cultura jovem da Califórnia: surf, carros e garotas. Hits como “Surfin’ USA” (1963), “Little Deuce Coupe” (1963) — com sua capa lendária do “hot rod” — tornaram-se trilhas do verão americano.

O álbum Little Deuce Coupe mostrou a capacidade de Brian de produzir rapidamente material de qualidade, mantendo-se no topo das paradas por 46 semanas e alcançando o topo 4 nos EUA .

Mesmo no início, Brian revelava uma inclinação para harmonias mais sofisticadas, melodias densas e arranjos que se afastavam da superficialidade típica da surf music.


A revolução Pet Sounds: a “parede de som californiana”

Em 1966, Brian Wilson revolucionou o pop com Pet Sounds, considerado até hoje um dos álbuns mais influentes de todos os tempos. Composições como “Wouldn’t It Be Nice”, “God Only Knows” — que Paul McCartney chamou de “a canção mais perfeita que já ouviu” — e “Sloop John B” combinavam orquestrações sofisticadas, ambição lírica e production techniques inéditas uol.com.br+15pt.wikipedia.org+15gizmodo.uol.com.br+15.

Esse álbum incorporou arranjos luxuosos criados por Brian com músicos de estúdio renomados, misturando chocalhos, campainhas, harpas, sinos de bicicleta, latidos de cães — uma tapeçaria sonora sem precedentes.

A crítica internacional respondeu em coro, e bandas como os Beatles passaram a buscar inspiração em Pet Sounds para seus álbuns Revolver e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band .

Formação clássica dos Beach Boys
The Beach Boys

A ambição desmedida de Smile e os fantasmas internos

Planejado como uma “sinfonia adolescente para Deus”, Smile visava ultrapassar Pet Sounds. Junto com Van Dyke Parks, Brian iniciou as gravações entre 1966 e 1967, lançando sucessos como “Good Vibrations” e “Heroes and Villains”. Porém, a pressão, os conflitos internos na banda, o colapso nervoso de Brian em 1964 e abusos de drogas interromperam o projeto.

O álbum foi abandonado em maio de 1967, parcialmente substituído por Smiley Smile (1967), sem a grandiosidade inicialmente planejada. Mas sua mitologia cresceu com o tempo, especialmente após o retorno de Brian ao projeto.

Em 2004, Brian lançou Brian Wilson Presents Smile, versão finalizada por ele e aclamada universalmente, ganhando até um Grammy.

Em 2011, a Capitol lançou The Smile Sessions com gravações originais de 1966–67.


A trajetória após os anos 1970

Após Smile, os Beach Boys viveram altos e baixos comerciais. Álbum como Sunflower (1970), hoje reverenciado, mal atingiu a 151ª posição nos EUA, mas ganhou respeito crítico ao longo do tempo.

Em 1977, Dennis Wilson lançou Pacific Ocean Blue, aclamado por sua crueza emocional; foi relançado anos depois em versão “Legacy Edition” com faixas inéditas.

Brian afastou-se progressivamente da banda, especialmente após a entrada do controverso terapeuta Eugene Landy, que controlou sua vida entre 1975 e 1991. Hairicles: Landy chegou a co-assinar letras e explorar financeiramente Brian, até ser legalmente removido.

A carreira solo de Braian Wilson
Brian Wilson ousou na carreira solo

A recuperação e carreira solo

Na década de 1980 Brian reconstruiu sua carreira solo:

  • 1988: Álbum de estreia Brian Wilson, com a belíssima “Love and Mercy”.

  • 1995: Documentário I Just Wasn’t Made for These Times, que o reintroduziu ao público.

  • 2004: Brian Wilson Presents Smile, execução triunfal de um projeto de 1967.

  • Tour internacional de Pet Sounds, onde revisitou seu auge artístico.

Em 2012, os Beach Boys se reuniram para celebrar os 50 anos com That’s Why God Made the Radio — seu melhor resultado nas paradas desde os anos 60.


Curiosidades de estúdio e encontro com outros artistas

  • O guitarrista David Gilmour (Pink Floyd) elogiou a evolução harmônica precoce de Brian, afirmando que já dominava composição, produção e arranjos em poucos anos.

  • “Good Vibrations”, gravado ao longo de dois anos com diversas sessões independentes montadas por Brian, exigia sua incansável busca pela perfeição: “não estava nunca satisfeito” .

  • Em sessões incomuns, Brian contracenou com figuras como Kanye West, segundo relatos de fãs curiosos .

  • Em 1964, Brian sofreu um sério ataque de pânico em um avião, abandonando definitivamente as turnês ao vivo.

Homenagens e repercussão

Celebridades como Paul McCartney, Bob Dylan, Carole King, Elton John, Ringo Starr, Keith Richards, John Cusack, Mick Fleetwood, entre outros, prestaram tributos emocionados ao gênio que “trouxe o espírito da Califórnia ao mundo” .

Fãs, críticos e músicos ressaltarão seu impacto duradouro:

  • A retratação lírica da juventude, dos questionamentos e da introspecção em Pet Sounds marcou uma virada na música pop.

  • O inacabado Smile virou lenda e foi revisitado com emoção por novas gerações.

  • A simplicidade refinada de “Love and Mercy” resume o ideal artístico e pessoal de Brian.


O legado artístico imortal

Discografia essencial

AnoDiscoDestaques
1963Little Deuce CoupeSurf music, tema automóvel, #4 EUA reddit.com+7pt.wikipedia.org+7pt.wikipedia.org+7
1966Pet SoundsInovador, orquestral, influenciou Beatles
1966–67Smile (Sessions/2004/2011)Nova sinfonia pop, cultuada, finalizada décadas depois
1970SunflowerÁlbum subestimado na época, reconhecido pós-lançamento
1977Pacific Ocean Blue (Dennis)Relevante obra solo de Dennis; relançada em edição “Legacy Edition”
1988Brian WilsonEstreia solo com “Love and Mercy”
2004Brian Wilson Presents SmileTriumpho crítico, Grammy
2012That’s Why God Made the RadioReunião 50 anos, #3 Billboard

Influência e legado

  • Brian foi pioneiro de estúdio, misturando pop, orquestra e efeitos sonoros domésticos pela primeira vez.

  • Sua melodia e harmonia rivalizaram com nomes como Paul McCartney e Phil Spector.

  • Em 1988, integrou-se ao Rock and Roll Hall of Fame , recebeu honrarias como o Kennedy Center Honor e ganhou prêmios Grammy.

  • Vários documentários e filmes, como Love and Mercy (2014), retrataram sua vida intensa — uma jornada entre genialidade e sofrimento.


Despedida definitiva do “Garoto da Praia”

Brian deixa sete filhos e uma obra que atravessou gerações. Seus irmãos Dennis (1983) e Carl (1998) já faleceram; entre os membros originais, restam Mike Love e Al Jardine.

Mais que canções, Brian nos legou sensações: o calor do verão, sonhos ao pôr do sol, reflexões sobre o tempo e a maturidade. Sua música ressoa em trilhas de filmes, fotos de verão, corações que ainda buscam ternura, melodias que ainda fazem chorar. Ele não apenas escreveu músicas: desenhou emoções.

Brian Wilson, the beach boys
O Músico Brian Wilson ao piano

Como celebrar seu legado?

  • ✨ Ouça os discos Pet Sounds, Smile Sessions e Brian Wilson Presents Smile com pausas para apreciar detalhes das harmonias. Ouça também a Rádio Na Era do Vinil, que toca Beach Boys. 

  • Assista ao filme Love and Mercy para entender o homem por trás do mito.

  • Explore biografias como I Am Brian Wilson para conhecer o gênio e seus fantasmas.

  • Compartilhe playlists com faixas como “God Only Knows”, “Surf’s Up”, “Don’t Worry Baby” e “Love and Mercy”.


Emocionando gerações

Hoje o mundo da música perde um mestre, um poeta pop, um alquimista de melodias. Brian Wilson não foi apenas um artista de sucesso: foi uma lufada de inovação, um herdeiro e portador do sonho californiano. Um homem que, mesmo nas trevas, encontrou luz em notas musicais.

Descanse em paz, Brian Wilson (1942–2025). A música que você semeou seguirá ecoando por muito tempo.

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