Angela Maria, Princesa e Rainha do Rádio

Em 1938 Getúlio Vargas soltava a voz no microfone da rádio com o programa nacional criado em seu governo: Hora do Brasil. Em 1951 “Sapoti” grava seu primeiro disco pela RCA. A futura Rainha do Rádio era de família muito humilde, a mãe dona de casa, e o pai era pastor de uma congregação evangélica. Por essa ligação familiar com a igreja, ela vivia cantando nos corais e aprendendo a amar a música e a arte de cantar.  Mas, o que estava por trás do sucesso longevo de Angela Maria que nos deixou em 2018, abrindo uma lacuna impreenchível na Música Popular Brasileira? O talento ímpar de uma mulher que realmente tinha o dom. Ela não forçava uma relação, havia de fato, um casamento com as melodias e as notas musicais que imponentemente seduziam-nos ao abrir de sua boca. Na década de 1950 já era uma cantora muito popular. O pessoal da elite também amava, ainda que, alguns, querendo manter a “pose”, compravam as revistas que estampavam a cantora na capa, e ao serem indagados, diziam que era “para a empregada”… na verdade, ela estava em todas as classes!

Getúlio Vargas, presidente do Brasil

Como a maioria das cantoras de sua época, Maria participava dos concursos das emissoras de rádio, sempre tirando notas máximas com a interpretação que era considerada belíssima. Passou a ser requisitada pelos meios de comunicação, tornando-se a queridinha na rádio Mayrink Veiga. Após a primeira gravação, sua fama atravessou fronteiras, encantou plateias de vários países com sua voz imensamente harmônica. Consagrou-se no gênero chamado samba-canção, surgido na década de 1930, ao lado de nomes como Nora Ney, Maysa e Dolores Duran.  A artista gravou dezenas de sucessos como: “Não Tenho Você”, “Babalú”, “Cinderela”, “Moça Bonita”, “Vá, mas Volte”, “Garota Solitária”, “Falhaste Coração”, “A Noite e a Despedida”, “Gente Humilde” e “Lábios de Mel”. Não pensem que outro presidente também não tirou uma “casquinha” da popularidade dos artistas em sua época. Juscelino Kubitschek, que adorava boa música, e como político, preocupava-se com a popularidade, recebeu Angela, eleita Melhor Cantora e Rainha do Rádio, bem como, demais nomes consagrados com o Prêmio Melhores de 1955.

 

Angela Maria, Juscelino Kubitschek, César de Alencar e Luíz Jatobá

 O presidente Getúlio não era pé de valsa, à exemplo de Juscelino Kubitschek, entretanto, sabia admirar uma bela voz. Foi do político que Angela Maria – que nasceu em 13 de maio de 1929, em Conceição de Macabu, no Rio de Janeiro – recebeu seu maior codinome. A artista permaneceu no topo de 1951 a 1977. Na época da Bossa Nova, lá estava Maria fazendo sucesso e no período da Jovem Guarda, também. Em 1978 o Ibope fez uma pesquisa perguntando qual a cantora mais popular do Brasil e ela foi encontrada no topo da admiração pública. Quem consegue essa longevidade artística hoje em dia? Poucos, nestes tempos de cantores de categoria duvidosa, letras pobres e dados à apelação corporal para vender shows. Ao contrário disso, Angela soube cantar os melhores repertórios, não precisava ser vulgar como algumas “divas” da atualidade, o sucesso da Rainha do Rádio estava na alma, na voz privilegiada. Vargas acertou em chamá-la de Sapoti, uma fruta doce, muito doce. Assim era nossa estrela do canto, uma intérprete que conseguia dar às letras o gosto do mel. Angela faleceu em 29 de setembro de 2018, aos 89 anos. Ela foi uma grande estrela na era do vinil e registrou seu nome na história do disco.

Angela Maria – Foi Deus (RCA Victor)