Adoniran, com filme lançado em 2024 sobre sua obra, também foi ator

João Rubinato adotou o nome e sobrenome de amigos para se tornar Adoniran Barbosa, e assim se consagrou como ícone do samba paulistano em músicas memoráveis como Saudosa Maloca, Iracema e Trem das Onze. Adoniran nasceu em Valinhos, interior de São Paulo, em 6 de agosto de 1910. Filho de imigrantes italianos, deixou a escola ainda na infância para trabalhar. Exerceu diversas profissões, incluindo tecelão, balconista, pintor e garçom. No início dos anos 1930, começou a participar de programas de talentos na Rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo. Apesar de ter sido desclassificado várias vezes devido à sua voz peculiar, fanha, Adoniran finalmente conquistou o primeiro lugar no programa de Jorge Amaral em 1933, ao interpretar “Filosofia” de Noel Rosa. Em 1935, compôs sua primeira música, “Dona Boa”, em parceria com o maestro e compositor J. Aimberê, que foi eleita a melhor marcha do Carnaval de São Paulo daquele ano. Permaneceu na Rádio Cruzeiro do Sul até 1940, quando se transferiu para a Rádio Record em 1941, a convite de Otávio Gabus Mendes. Foi lá que iniciou sua carreira de ator, participando de uma série de radioteatro chamada “Serões Domingueiros”.

Essa foi a oportunidade para Adoniran começar a criar sua galeria de personagens, sempre cômicos, como o malandro Zé Cunversa ou Jean Rubinet, um galã de cinema francês. O linguajar popular de seus personagens encontrava par em suas composições. A maneira de compor sem se preocupar com a grafia correta tornou-se sua maior característica e lhe rendeu críticas de gente como o poeta e compositor Vinícius de Moraes. Adoniran não deu importância às declarações de Vinícius, tanto que musicou uma poesia do escritor carioca transformando-a na valsa “Bom Dia, Tristeza”. Às críticas que recebia Adoniran rebatia: “só faço samba pra povo. Por isso faço letras com erros de português, porquê é assim que o povo fala. Além disso, acho que o samba, assim, fica mais bonito de se cantar.” – dizia o compositor.

Na Record, Adoniran conheceu o produtor Osvaldo Molles, responsável pela criação e pelo texto dos principais tipos interpretados por ele. Os dois trabalharam juntos durante 26 anos. No rádio, um dos maiores sucessos dessa parceria foi o programa “Histórias das Malocas“, onde Adoniran representava o personagem Charutinho. O programa ficou no ar pela rádio Record até 1965, chegando a ter uma versão para a televisão. Os dois também dividiram a criação de vários sambas.  Dessa união nasceram, entre outros clássicos, “Tiro ao Álvaro” e “Pafúncia“. De samba em samba, Adoniran Barbosa foi se tornando um compositor diferente, estudando assuntos sociais e abordando temas do povo de São Paulo que poucos escritores antes dele ousaram abordar.

Galeria Adoniran

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Adoniran Barbosa na Sétima Arte

Que Adoniran Barbosa é sambista dos bons todo mundo sabe, mas o autor de Trem das Onze também enveredou pela carreira de ator. Inclusive teve um papel de destaque num dos clássicos do cinema nacional: O Cangaceiro, escrito e dirigido por Lima Barreto, lançado em 1953. Em 1945, Adoniran começou a atuar no cinema. Sua primeira participação foi no filme “Pif-Paf“, seguido de “Caídos do Céu“, em 1946, ambos dirigidos por Ademar Gonzaga. Em 1953, atuou em “O Cangaceiro“, de Lima Barreto. O papel que lhe coube era de um dos cangaceiros do bando. Disfarçou o sotaque paulista e saiu-se muito bem como nordestino. Cinema não era novidade para Adoniran. Ao todo, atuou em mais de 10 filmes, mas nunca com a mesma repercussão de O Cangaceiro.

O filme recebeu inúmeros prêmios ao redor do mundo, destacando-se como a primeira produção brasileira a conquistar um prêmio em Cannes: o de Melhor Filme de Aventura daquele ano. Durante as filmagens, Adoniran conheceu o grupo Demônios da Garoa, marcando o início de uma das parcerias mais duradouras na música brasileira. Segundo o portal “Adoro Cinema”, O Cangaceiro é o filme brasileiro de maior sucesso internacional, sendo vendido para mais de 80 países.

Obra e carreira de Adoniran em “Saudosa Maloca”

Um ícone da música brasileira, Adorinan Barbosa ganha vida nas telonas através da interpretação de Paulo Miklos (O Homem Cordial, Manhãs de Setembro). Esta não é a primeira vez que Miklos assume o papel de Adoniran Barbosa. Em 2015, ele já havia encarnado o sambista no curta-metragem “Dá Licença de Contar”, também dirigido por Pedro Serrano. Os versos iniciais de uma das canções mais emblemáticas de João Rubinato, mais conhecido como Adoniran Barbosa (1912-1982), nos conduzem para o universo do artista que personificou São Paulo em suas composições, verdadeiras crônicas da megalópole e de seu povo. “Saudosa Maloca” apresenta Adoniran, já idoso aos 72 anos, compartilhando memórias nostálgicas com um garçom de um bar, evocando uma São Paulo que já não existe mais e relembrando seus amigos Matogrosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado), que viviam em uma maloca já desaparecida, ambos enamorados por Iracema (Leilah Moreno).

Com o samba como aliado, Adoniran, Joca e Matogrosso enfrentam a pobreza e a fome, mas veem seu modo de vida ameaçado quando o bairro do Bixiga começa a ser transformado pela voracidade das mudanças, reflexo do crescimento desenfreado de São Paulo nas décadas de 1950 e 1960. “Saudosa Maloca” é dirigido por Pedro Soffer Serrano, que já dirigiu duas obras sobre Adoniran Barbosa: o mencionado curta “Dá Licença de Contar”, de 2015, que serviu de base para este longa-metragem, e o documentário “Adoniran: Meu Nome é João Rubinato”, de 2018. O elenco do filme inclui ainda Leilah Moreno (Antônia), Sidney Santiago Kuanza (Rensga Hits!) e Paulo Tiefenthaler (Nada Suspeitos), entre outros. Assista abaixo ao trailler de Saudosa Maloca (2024).

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