Já são duas décadas de ausência da cantora que pôs fogo na MPB com sua versatilidade e personalidade forte
Há 20 anos, um infarto fulminante calava uma das intérpretes mais populares da música contemporânea brasileira. Cássia Eller havia acabado de completar 39 anos e vivia o auge de sua carreira quando sofreu quatro paradas cardíacas no dia 29 de dezembro de 2001. A intensidade do trabalho certamente acabou por cobrar seu preço quando ela sofreu o infarto no final daquele ano, fazendo muitos associarem sua morte ao uso de drogas, que ela já havia abandonado havia dois anos, como ela disse em entrevista à revista “Marie Claire” em outubro de 2001, e também como mostraram os exames toxicológicos feitos após sua morte.
Ela foi internada na tarde de um sábado, no Rio de Janeiro, mas não resistiu, pegando o país de surpresa entre o Natal e o Ano Novo daquele que havia sido o ano mais prolífico de sua carreira.
2001 foi um ano crucial para consolidá-la como uma das artistas mais versáteis de sua geração. Ela havia começado o ano apresentando-se na terceira edição do Rock in Rio, quando, depois de cantar músicas de Chico Buarque, Cazuza, João do Vale, Renato Russo e Nando Reis, convidou a banda Nação Zumbi para tocar “Come Together”, dos Beatles, a seu lado.
Em março daquele ano, Cássia selaria sua parceria com o ex-titã Nando Reis, chamado por ela para dirigir seu Acústico MTV. Nando havia produzido o último disco de estúdio de Cássia, “Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo”, lançado em 1999, e a conexão entre os dois era intensa.
Nando lembra dos discos que gravou com Cássia, que aproximava dois universos distintos e até então opostos da música brasileira: o rock e a MPB. Mas discorda ao referir-se musicalmente a gêneros musicais – “ela transitava em muitas áreas” -, e diz que conseguiu, ao seu lado, aproximar sonoridades que aparentemente não conversavam.
“O trabalho que eu fiz com ela pessoalmente, os dois discos, estabelecem um ponto de encontro e de conciliação entre essas duas sonoridades”, fala, explicando como rock e MPB eram a base da formação musical da geração dos dois – Cássia era um mês mais velha do que Nando.
Foi Nando quem sugeriu que Cássia abrisse seu Acústico cantando a imortal canção francesa “Non, Je Ne Regrette Rien”, eternizada por Edith Piaf.
Nascida na zona oeste do Rio de Janeiro em 1962, Cássia Eller passou por diferentes cidades – como Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Santarém, no Pará – antes de mudar-se para Brasília ao assumir a maioridade e começar a trabalhar com música.
Cantou em corais, participou de duas óperas, foi vocalista de um grupo de forró, tocou surdo em um grupo de samba, liderou o primeiro trio elétrico da capital, o Massa Real, e começou a cantar profissionalmente com Oswaldo Montenegro. Sua carreira fonográfica começa em 1990, quando desponta ao misturar uma canção dos Beatles com outra do Legião Urbana. Assim, os anos 1990 a consolidaram como uma das intérpretes mais populares da música contemporânea brasileira.
As duas décadas sem Cássia Eller acabaram por motivar homenagens póstumas. A primeira delas foi o lançamento do single “Espírito do Som”, gravado originalmente em 1985, e lançado no último dia 10, data que marcaria seu aniversário de 39 anos. Outra homenagem é o musical “Cássia Rejane – Muito mais que Eller”, que foi montado em Brasília e que deve correr o Brasil a partir do ano que vem.
Fonte: CNN Brasil, G1